TURNÊS

TXAI

"Ouvi o eco da minha voz na floresta. Não é só aquela repetição; o som segue o caminho do rio.

Antes eu tinha medo que as pessoas não acreditassem no que eu tenho para contar. Não tenho mais esse medo, não.

Quando você encosta num barranco, naquela procissão de canoas - aí você descobre o Brasil, descobre você mesmo, descobre tudo.

TXAI é a metade de mim que existe em você, é a metade de você que existe em mim.
TXAI é mais que irmão, mais que amigo.
Está na hora de dizer isso para os outros."
Milton Nascimento

MILTON NASCIMENTO NO JURUÁ
A convite do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e da União das Nações Indígenas (UNIS), Milton Nascimento navegou dezessete dias pelas águas cristalinas do Alto do Juruá e do rio Amônea, no extremo oeste do Acre, fronteira do Brasil com o Peru, no mês de agosto passado.

Trocou seu tradicional boné por um chapéu de palha e "veio ver de perto pra saber de certo" a realidade dos povos da floresta, cuja aliança firmada em Rio Branco durante o 1º Encontro realizado entre índios e seringueiros em março de 89 (ver declaração final no encarte Amazônia/Documento desta revista) havia sido anunciada para "os povos das cidades" num show dele, no mês de maio, em São Paulo. A viagem pelo Juruá, até as aldeias Campa das cabeceiras do Amônea, foi organizada e documentada pelas equipes do CEDI e da Quilombo Produções em colaboração com UNI, a CPI-Acre, o CNS e a Associação dos Seringueiros do Rio Tejo.

Macedo foi o mestre. Terri e Mauro Almeida, antropólogos acreanos, orientaram as descobertas, registradas pelas câmeras de Siá Kaxinawa, Charles Vincent (vídeo) e Márcio Ferreira (fotos). Rubens Matuck, artista plástico, fez a fotografia das pessoas, da natureza.

O batelão da Associação dos Seringueiros não passou da Cachoeira do Gastão, próximo a Vila Taumaturgo. Tempo de verão, águas baixas, bancos de areia e pausados. Embora pilotado por especialistas na navegação fluvial, como o Zé das Águas, o barco encalhou dezenas de vezes.

Pernoites nas praias, nas casas dos ribeirinhos, assuntando as novidades de um cotidiano marcado pela abundância dos roçados de várzea das piracemas de mandi e pela alegria das famílias Campa veraneando em tapiro nas praias, bebendo caissuma, ou fazendo os cusmas de algodão ecantando cantigas nas miragens do cipó huasca. Botos cor-de-rosa brincando no vapor matutino das águas mornas.

Histórias de desmandos de parte dos seringalistas, da vida dura na floresta do projeto da reserva extrativista do rio Tejo, das mudanças de Campo do Peru para o Brasil, fugindo recrutamento compulsório que o exército peruano tenta impor a algumas aldeias, para combater o Sendero Luminoso.

Milton falou pouco, mas reparou em tudo com muita atenção. Recebeu dos ribeirinhos peixes e frutas de presente, como merecia um "cantor famoso" anunciado pela Rádio Floresta, mas nem sempre reconhecido pelo nome. Aproveitou esse semi-anonimato para cantar canções de outros autores, sempre acompanhado de conjuntos improvisados com a participação de músicos locais. Ao final da viagem foi avaliada pelo próprio Milton e pelos demais integrante do campo como uma experiência marcante que trará bons fluidos para o disco e shows que fará no próximo ano para apoiar a "Aliança dos povos da Floresta".

ISA - Instituto Socioambiental
O Instituto Socioambiental - ISA é uma associação civil brasileira, que surgiu da transformação e fusão de instituições conceituadas (CEDI e NDI), fundado em 1994, por pessoas com formação e experiência marcante na luta pela defesa de direitos sociais e do meio ambiente.

O ISA entende as questões sociais e ambientais de maneira integrada, realizando ações para a conservação, o uso sustentável e a repartição de benefícios da biodiversidade, visando o respeito aos direitos coletivos e difusos e a melhoria da qualidade de vida da população.

O ISA tem atua na sensibilização e mobilização da sociedade para mudar o quadro de degradação social e ambiental do país, atuando simultaneamente através da ação política, ação jurídica, produção e distribuição de informação e do desenvolvimento de projetos exemplares que possam ser disseminados e multiplicados.

O ISA desenvolve programas, projetos e campanhas de alcance local, regional, nacional, regional e internacional, em que os temas prioritários são povos indígenas, remanescentes de quilombos e outras populações tradicionais, unidades de conservação, recursos naturais, patrimônio cultural, direitos humanos e dos povos, cidadania e biodiversidade.

O ISA atua no país inteiro, e em especial no Alto Rio Negro ( Amazonas) , no Parque Indígena do Xingu (Mato Grosso), no Vale do Ribeira e na Região Metropolitana de São Paulo.

Uma importante modalidade de trabalho do ISA é realizada pelo laboratório de geoprocessamento, cujos mapas permitem o monitoramento sistemático de políticas públicas na temática socioambiental.