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MILTON NASCIMENTO EM JUIZ DE FORA

Confira o texto publicado na coluna "Eu Fui", do jornal "Tribuna de Minas", em 26/05/2009, referente ao show de Milton Nascimento no Cine-Theatro Central de Juiz de Fora, em 23/05/2009

Nada mais justo que comemorar os 80 anos do Cine-Theatro Central com a presença marcante desse mito contem¬porâneo da música popular brasileira, o Bituca, uma estrela guia de três pontas, que nesses últimos 40 anos, iluminou e encantou o planeta Terra com a sua divina e sagrada capacidade de cantar em "mil tons", mundo afora pelos bares, palcos e bailes da vida. Canções que marcaram as nossas vidas profundamente e continuarão sensibilizando, influenciando e encantando as próximas e próximas gerações. Alguém um dia disse: "...se Deus cantasse, seria com a voz de Milton Nascimento...".

Em pleno show, ouvi-lo contar uma pequena e singela história de sua infância, que teve um breve capítulo em nossa que¬rida Juiz de Fora, quando por aqui passou, sendo trazido para morar com a sua avó, em função da morte da sua mãe biológica, e vê-lo falar do banzo que o acometeu pela saudade de Lílian (lírio) aquela mulher en¬cantadora, que mais tarde viria a ser a sua mãe de espírito, alma e coração, foi, sem dúvida, uma experiência inesquecível, uma lição de vida, simplicidade, sensibilidade e grandeza d'alma... e foi demais, em seguida, ouvi-lo cantar:"...pensar além do bem e mal, lembrar de coisas que ninguém viu, o mundo lá sempre a rodar, em cima dele tudo vale. Quem sabe isso quer dizer amor. Estrada de fazer o sonho acontecer...".

Nesse último sábado, tivemos uma noi¬te de gala, de alegria e confraternização. Mais do que um espetáculo, estávamos ali reunidos para comemorar ouvindo, can¬tando, solfejando, aplaudindo e emanan¬do carinho, fraternidade e agradecimentos para todos aqueles que nos propiciaram tamanha felicidade. Milton demonstrou co¬nhecimento sobre a história daquele teatro, traduzindo o seu orgulho pelo tombamento desse monumento em 1983, declarando-se um dos militantes, em meados dos anos 1990, da campanha "Sim ao Cine-Theatro Central", com a participação conjunta do poder público, a comunidade juizforana e artistas consagrados no cenário nacional, que culminou com a sua aquisição em 1994 e a sua completa restauração. No dia 14 de novembro de 1996, o coração de Juiz de Fora voltou a pulsar, e a cidade voltou a sorrir, finalmente recebia de volta a sua grande casa de cultura. Há motivos de sobra para eternizarmos aquele momento histórico, afinal foram muitos anos de luta, trabalho e perseverança de alguns abnegados contra o descaso, a ganância, a ameaça da especulação imobiliária e a provável destruição desse imóvel de tanta relevância para a história de Juiz de Fora e região.

Não é qualquer cidade que pode comemorar as datas de inauguração, tombamento, aquisição públi¬ca e restauração total de um monumento cultural do porte e da grandeza de um Cine-Theatro Central. O desfecho vitorioso desse embate favo¬rável à cultura só poderia ser devidamente coroado, recebendo em seu palco a estrela maior da música brasileira, quiçá do plane¬ta... que nos brindou com alguns de seus maiores sucessos e dando-nos um exemplo de carinho, agradecimento e generosidade cantando com o nosso querido amigo Marcinho Itaboray, com a participação do conjunto Lúdica Música!, terminando o seu show com uma declaração de amor a nossa querida cidade: "embora, em minha infân¬cia, eu tenha partido daqui precocemente, é aqui, em Juiz de Fora, que eu tenho o maior número de amigos". Milton, você tem razão, amigo é coisa para se guardar a sete chaves, no lado esquerdo do peito, dentro do coração... Obrigado Bituca. A casa é sua. Volte sempre Milton Nascimento.

ROBSON P. R. VALLE
psicólogo clínico e social