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Novo disco de Hamilton de Holanda tem participação de Milton Nascimento

O encontro aconteceu no fim do mês de outubro num estúdio da Zona Oeste do Rio de Janeiro

POR DANILO "JAPA" NUHA

Considerado o maior bandolinista do mundo, Hamilton de Holanda convidou Milton Nascimento para cantar em seu mais novo disco. Composta pelo próprio Hamilton, a música é inspirada nos murais "Guerra e Paz", de Candido Portinari, e foi batizada com o mesmo nome.

O fato de misturar canções com a obra de Portinari está se tornando uma constante na rotina de Milton (que incorporou vários trabalhos do pintor no cenário de sua mais recente turnê "E a Gente Sonhando"), e que, no ano passado, participou ativamente do projeto que estruturou o retorno dos murais para serem restaurados no Brasil.

Na chegada ao Rio de Janeiro, a obra foi para o Theatro Municipal, onde, no primeiro dia da exposição - 21 de dezembro de 2010 - Milton apresentou a canção "Conversas, Pinturas e Desenhos", uma parceria dele com Ricardo Vogt, também em homenagem aos murais.

De acordo com o Projeto Portinari, "Guerra e Paz foi um presente do Governo Brasileiro para a sede da ONU, em NY, e foram encomendados no final de 1952 ao pintor. Era uma superfície de 280 metros quadrados, espaço maior do que o do Juízo Final, de Michelangelo, na Capela Sistina. Contrariando as recomendações médicas, proibido de pintar por sintomas de intoxicação pelas tintas, Portinari aceitou o convite. E no auditório dos estúdios da TV Tupi, durante quatro anos, Portinari trabalhou com afinco na confecção de 180 estudos, esboços e maquetes para os murais. Em 5 de janeiro de 1956, Portinari entregava os painéis "Guerra e Paz" para serem doados à ONU" .

Na primeira semana de novembro, poucos dias depois da gravação com Milton Nascimento num estúdio da Zona Oeste, no Rio de Janeiro, Hamilton de Holanda concedeu uma entrevista exclusiva ao Site Oficial Milton Nascimento. Veja abaixo a entrevista na íntegra e a galeria de fotos.


1 - Como surgiu a ideia de chamar Milton para gravar Guerra e Paz?

A composição foi inspirada nos painéis do pintor Candido Portinari. A essência da música é toda mineira, interiorana, com a temática nascimentiana. Talvez um pouco latino-americana também. É como se eu tivesse escrito a música pro Milton cantar e isso tivesse acontecido, como foi, na verdade. Além de ser um luxo, de ser algo muito especial ter a voz de Milton em uma composição que fiz inspirado em sua musicalidade.

2 - Quem são os músicos que participaram junto com você nesta faixa?

Essa música é parte do disco "Brasilianos 3", que gravei com meu quinteto. Amigos queridos e músicos do mais alto nível. Gabriel Grossi, tocando harmonica, André Vasconcellos ao baixo acústico, Marcio Bahia e sua bateria, além de Daniel Santiago, ao violão e co-autoria de algumas composições.

3 - Qual a previsão de lançamento do disco?

A primeira fase do lançamento está sendo agora, com a distribuição gratuita pela internet. No meu site (hamiltondeholanda.com) temos os caminhos para esse download e também o disco para ser ouvido (streaming). O CD físico está chegando da fábrica na semana que vem. A partir daí, faremos a distribuição para as lojas e para os jornalistas, críticos, músicos, produtores, etc.

4- É verdade que vai sair pelo seu próprio selo? Você pode falar um pouco sobre ele?

Brasilianos é o nome do selo que tenho em parceria com o produtor Marcos Portinari. Há uns 5 anos atrás, criei este selo como uma maneira de lançar todos meus trabalhos, respeitando meus anseios e vontades artísticas. Tem época que lanço 3 discos de uma só vez. Para isso era necessário ter essa independência. Acabou dando certo. Hoje temos alguns músicos em nosso catálogo, já ganhamos alguns prêmios e nominações, como o Prêmio da Música Brasileira e o Grammy Latino e; com os shows e a parceria com a Microservice, temos uma boa venda de discos, podendo dar continuidade com tranquilidade aos anseios artísticos.

5 - Além do Milton, tem mais alguma participação especial neste disco?

O disco Brasilianos 3 tem apenas uma participação especial, que é o nosso Milton Nascimento.

6 - Você e Milton já são amigos há algum tempo, de onde veio essa aproximação?

Na verdade, já sou amigo da música de Milton há um tempão !
Mas, pessoalmente, nos conhecemos em Brasília, em um concerto que fizemos com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro. Depois disso, houve um acidente com meu enteado querido, que deixou minha família bem abalada, e o Milton foi um dos primeiros a ir ao hospital, a chegar junto. Enfim, seu bom coração está sempre trabalhando. E isso nos aproximou muito, claro.

7 - Antes de conhecê-lo pessoalmente, a música de Milton Nascimento teve alguma influência na sua arte?

A música de Milton é uma grande inspiração para mim. Eu escutei e escuto vários discos dele, mas tem um que me influenciou definitivamente: Angelus. Que beleza ! Pra mim, obra-prima.