TURNÊS

CROONER 2000

Em suas próprias palavras, Milton Nascimento definiu Crooner como sendo a volta do "novo velho Milton". Os músicos, técnicos, produtores e demais profissionais envolvidos neste trabalho, temos hoje, o privilégio de assistir de camarote o encontro dos dois: o velho Milton que saltou dos pequenos palcos do interior de Minas Gerais para os mais importantes palcos do mundo e, o novo Milton, mais bonito, mais feliz, em paz com a música, com a vida, cantando cada vez melhor. Nos dois, a força do talento extraordinário que derrubou limites e ultrapassou todas as fronteiras, a obsessão em fazer bem feito, o prazer no detalhe, o carinho e respeito pelos amigos e companheiros de trabalho. Nós, a equipe de CROONER, agradecemos a Milton Nascimento a oportunidade de estarmos presentes neste baile. Não tenha dúvida: o prazer é todo nosso. Agradecemos também a todos (e foram muitos) que nos ajudaram de uma maneira ou outra a construir este espetáculo.
Marilene Gondim e a Tribo.
junho de 1999

MILTON NASCIMENTO
CROONER - NOS BAILES DA VIDA
Neste final de milênio, nesta troca de datas tão simbólica, Milton Nascimento finalmente faz justiça a si mesmo e deixa-se subjugar pelo menino e "crooner" Bituca, o garotão magricela dos anos sessenta, tocador de contra-baixo e cantador de músicas mais requisitadas, nos velhos bailes da vida.
Numa singular volta ao passado, Milton nos brinda desde já com esse showzaço , CROONER, desde já proclamado o Bailão de Reveillon do Ano 2000. Nada de grandes ou sequer pequenas considerações político-ideológicas. Nada de sutis ou mesmo grosseiros matizes sócio-ecológicos. Muito menos revelações místico-religiosas de qualquer tipo ou tamanho.

Apenas boa e velha música de dançar juntinho, como em nossas festinhas do edifício Levy e nas gig da boate Pampulha, direto do túnel do tempo.

Coisas que ele começou a cantar nos anos 50, nos tempos da sanfoninha de 4 baixos, que não tinha os acidentes musicais e o obrigava a emitir as notas faltantes com a boca. Atrás da moita, o garoto Wagner Tiso ouvia tudo e planejava: - ainda vou levar esse cara pros meus bailes... Um dia, cumpriu o prometido e lá se foram, menores de idade, tocar profissionalmente, escondidos do Juizado. Quando pintava batida dos homens da lei, pianista e "crooner" mirins se escondiam na cozinha, ótimo lugar, reduto de guaranás e salgadinhos.

Pois bem. Hoje Bituca quer e precisa homenagear, antes de mais nada, apenas e tão somente este seu próprio passado, a longitude e longevidade de sua própria trajetória longa. Quer ressaltar que, sendo outro, ainda é aquele mesmo menino de calças curtas, que certa vez viu no Tijuca Tênis Clube um espetáculo de Marcio Mascarenhas e quase morreu de emoção quando aqueles quinhentos acordeons começaram a tocar.

Bituca teve seu primeiro contato com músicos profissionais de cidade grande em Belo Horizonte, na Boate Berimbau, edifício Maletta, lugar onde o pessoal se apresentava e tocava músicas que ele e Wagner costumavam tocar, mas de uma maneira totalmente diferente da deles. O garotão Bituca ficou desesperado. Falou: "Pô! Tenho que aprender tudo de novo!" Nessa época ele tocava com Marilton, meu irmão. Falou prá ele: "tenho que mudar tudo, tenho que aprender tudo de novo", aí o Marilton falou: "você está louco! Tem que tocar desse jeito aí".
Estava melhor que o original.

"Acabei ficando amigo dos outros músicos de Belo Horizonte e a atitude era igual a essa do Marilton, né. O pessoal ficava louco com as coisas que a gente tocava. Por exemplo, o "Blue Moon", que todo mundo tocava de um jeito, o Wagner chegou tocando de outro, parecia que estava tocando a música de trás para frente, porque "Blue Moon" é em maior e ele tocava numa seqüência menor. No Rio de Janeiro ele ficou conhecido como o pianista do Blue Moon.

Quem fala assim, é aquele Bituca dos tempos em que cantava "Aqueles Olhos Verdes", de olhos fechados, música que aprendeu com D. Lilia, sua mãe, a quem homenageia agora neste trabalho.
Este show é a cara dele. Sua livre e total escolha. A homenagem de Bituca, músico anônimo, aos milhares de músicos anônimos que um dia sonharam ser um MILTON NASCIMENTO.
Márcio Borges, 1999