NOTÍCIAS

Diário de Estrada - Bituca's Trip Nº 6 - Volta Redonda - Outubro 2010

Cinema, pipoca, usinas, fogo no céu, aplausos, o povo na rua e o dia em que o filme fez ao vivo

Entre os dias 18 e 25 de outubro, a Trupe Nascimento esteve em duas cidades com dois shows diferentes. A primeira parada foi num fim de tarde meio frio do dia 18 de outubro, segunda-feira, quando Bituca chegou de carro a Volta Redonda, acompanhado do sobrinho João Vitor e do motorista Antonio - mais conhecido como "Seca do Nordeste" - por causa da habilidade que desenvolveu quando não está ao volante: "secar", numa só tragada, doses e mais doses de cachaça mineira (principalmente alheias).

A prefeitura havia preparado o Teatro Cine 9 de abril para receber Milton e sua formação clássica para o show em que executa apenas os grandes sucessos da carreira: com Wilson Lopes (guitarra), Lincoln Cheib (bateria), Kiko Continentino (piano) e Gastão Villeroy (baixo). Volta Redonda, também conhecida como "Cidade do Aço", está localizada no sul fluminense do estado do Rio de Janeiro.

Foram duas sessões de uma hora cada, a primeira às 19h, e o fechamento às 21h30. A entrada para assistir a qualquer um dos shows era 1Kg de alimento, principalmente leite, como pediam os organizadores. Mas a procura foi tanta que a prefeitura teve que montar um telão ao lado de fora do teatro, que também foi muito disputado pelas pessoas que ficaram sem ingresso. Milton estava animado, parecia sentir desde já a vibração que tomaria conta dos shows daquela semana de outubro. E por mais que fossem cidades completamente diferentes, Volta Redonda e Juiz de Fora (para onde a Trupe iria na sequência) tinham uma característica em comum:

A Bituca Mania.

Tanto do lado de fora - em frente ao telão, quanto na parte de dentro do Cine 9 Abril, havia muito movimento. E apenas a aglomeração de pessoas que formavam fila à procura de ingresso já daria para encher uma terceira sessão naquela noite. Fãs de quase toda a região se deslocaram até Volta Redonda na esperança de entrar em algum show. A Rua 14, onde estava localizado o teatro, exalava um sopro de euforia, que se misturava ao cheiro da pipoca, do churrasquinho, do amendoim e do álcool infiltrado na fumaça de cigarro que saia dos botequins e camelôs do outro lado da praça. Ônibus de linha que cruzavam a cidade com destino a periferia estavam lotados. Não muito longe, as ruas do centro traziam e levavam cada vez mais gente que saia do trabalho. Enquanto isso, o fogo da usina queimava.

O Cine 9 de abril - que funciona como cinema e teatro - também exibia o mais novo fenômeno mercadológico do Brasil naquele momento, Tropa de Elite 2. E mesmo com a busca frenética para assistir ao filme, os trabalhos tiveram que ser interrompidos para dar lugar a um outro cartaz:

"Somente Hoje. Milton Nascimento e banda. Duas Sessões. Ao Vivo".

Binho, o iluminador, havia ajustado tudo na parte da tarde. Foi dele a ideia, instintiva, ou não, de fazer com que Milton saísse literalmente de dentro do projetor. O show inteiro rodou na mesma batida de um filme. Visual, enredo, personagens, trilha sonora. A música de Milton se fixava diretamente nas telas daquele cinema.

O diretor e o ator, Milton Nascimento.

E como o assunto é cinema. Não seria nenhum "fora" de contexto traçar um paralelo entre Milton, Chaplin e Mazzaropi que, além do papel principal, também escreviam seus próprios roteiros. Poucos conseguiram passar uma mensagem de forma tão direta, tão natural: o povo ri, o povo se emociona. E, quando sobem os créditos, o povo grita. A alegria explode. Impossível não se comover diante de algo criado por eles. Garrincha, dentro de campo, também.

E em 50 anos de existência, o Cine 9 de Abril, que já exibiu Antonioni, Glauber Rocha, Truffaut, Mazzaropi e Godard, esteve agora representado em suas telas através de uma outra forma de arte, tão rica e fascinante quanto o mundo do cinema: o som e a poesia de Milton Nascimento.

Nas duas sessões em Volta Redonda, o público já ameaçava sair das cadeiras no meio do show. "Para Lennon e Mccartney" era sempre o pretexto para que centenas começassem a seguir em direção ao palco. E sem opção diante de tanta gente, só restava aos seguranças liberar a passagem. Todos queriam tocar em Milton.

A situação ficou ainda mais movimentada na introdução de "Cravo e Canela". Foi quando o teatro inteiro começou a se espalhar por todos os corredores em busca de um espaço para ver Milton mais de perto.

E ele, próximo de encerrar os trabalhos, emenda direto após quase levar o teatro abaixo com Maria Maria. Bituca ainda fez a plateia se transformar num poderoso e afinado coro antes de se despedir. Na execução da última música, ele andou o palco de ponta a ponta regendo o público e oferecendo o microfone para as pessoas cantarem A Lua Girou. E o ato ganhava ainda mais força depois de cada pessoa escolhida por ele.

Lentamente, Milton foi saindo do palco. A projeção chegava ao fim. No dia seguinte, Tropa de Elite voltaria às telas, mas, naquela noite, o enredo foi outro.

Lá fora, o povo seguia para casa. E as ruas, já com outro cenário, se deixavam absorver pela madrugada. O guarda noturno assume o posto. No mural, feito de madeira, um homem lia o cartaz:

"Somente Hoje. Milton Nascimento e banda. Duas Sessões. Ao Vivo".

Terça-feira, 19 de outubro de 2010 - Volta Redonda(RJ)

________________________________

Danilo Nuha
Assessoria de Comunicação
Nascimento Música
(21) 8633-9802
www.miltonnascimento.com.br
danilo@miltonnascimento.com.br